quinta-feira, 27 de maio de 2010

AS FRASES

as frases são as medidas do tempo
e o tempo tem essa missão
de criar e contar histórias

por isso, meu amor,
me diga o que é preciso ser dito,
me fale,
porque a palavra tem pressa,
passa um século
e um verbo nunca mais...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

CLICK

       Minha primeira máquina profissional, adquiri quando de passagem por Santa Cruz do Sul. Comprei na caixa, novinha. Belinha era seu nome.
       Passei dois meses inteiros viajando e só fotografando crianças. Queria mostrar a ela como o mundo é bonito. Tem coisa mais linda que um sorriso de bebê?
       Só depois, com o passar do tempo, comecei a fotografar outras coisas, trabalhadores, a arquitetura das cidades, paisagens, a fauna, as flores, mostrei a alegria do Carnaval da Bahia, o colorido nas Festas Juninas de Pernambuco, o Boi Bumbá no Maranhão, a vida cultural e deliciosa do Rio e de São Paulo, a confraternização das pessoas nas Rodas de Chimarrão no Rio Grande do Sul, a religiosidade no Sírio de Nazaré, em Belém do Pará e o Terno de Reis em Minas, enfim, sempre que fazia uma fotografia, quando escutava o "click", eu pensava no seu crescimento interior. O Brasil é um país riquíssimo.
       E tão amado!
       Só então, depois que ela tinha visto e aprendido bastante, expliquei que também existia outras coisas ainda mais importantes que ela precisava conhecer!

       Durante esses anos que tenho viajado pelo Brasil fotografando e escrevendo poemas, tenho escutado muito o meu coração. E também o coração do povo, particularmente, do povo mais humilde e especial.
       Visitei algumas escolas carentes para recitar poesia para os alunos, entrei em alguns hospitais psiquiátricos, de vez em quando um albergue para deficientes, e, sempre que enxergava um velho mendigo, na beira de uma estrada, estacionava meu carro no acostamento e descia para conversar. Na verdade, mais para escutar. Histórias de vida que faz você pensar. E repensar o mundo.
       Leio nos jornais sobre guerras, políticas criminosas e interesseiras, desigualdades, intrigas, violência, assassinatos... Vejo um mundo de pessoas presas em coisas absurdas, aprisionadas em celas construídas com as barras da arrogância, dos preconceitos, da ganância, da intolerância, do ciúmes e da mentira.
       Falta poesia no mundo. A boa poesia.

       Escrever e viajar, para mim, são atos de resistência, mas acima de tudo, de aprendizado, onde a maior lição, a lição da solidariedade, quem ensina são as pessoas simples, os desvalidos, os pobres e os excluídos desta nossa sociedade desigual e injusta. É junto deles que eu encontro a luminosidade e a nitidez perfeita para fotografar a generosidade e a aflição da alma humana.

       É um mundo delicado e sensível, onde a poesia tenta sobreviver no grito incompreensível dos loucos, mendigando no olhar perdido dos velhos esquecidos em asilos e em beiras de estradas, se humilhando na palavra de um menino de rua pedindo "por favor".

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sexta-feira, 21 de maio de 2010

O HOMEM-BOMBA

       Eu não vejo diferença, por exemplo, de um homem-bomba cheio de raiva querendo explodir o mundo e o cidadão comum que caminha na rua irritado, cansado e insatisfeito com a realidade à sua volta, louco para chegar em casa para despejar sua frustração na esposa e nos filhos.
       O que eu quero dizer é que não somos homens-bomba, literalmente, carregados de explosivos, correndo desesperadamente na direção dos nossos inimigos. Somos, sim, homens carregados de raiva, de medo, de revolta e falta de compreensão.
       Essa combinação, esse coquetel, é a pior de todas as bombas. Porque essa não é uma bomba que explode uma vez só, mas sim, a cada dia.
       A todo instante, ela vai destruindo e acabando com a vida das pessoas que a gente mais deveria amar.
 
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quinta-feira, 20 de maio de 2010

ASTROLÁBIOS

       Muitas foram as caravelas que se perderam ou naufragaram mundo afora, tantas por falta de sorte, outras, mais pela incapacidade ou mesmo imprudência em definir os rumos de suas vidas sem a orientação precisa e celeste dos "Astrolábios".


       Já os navegadores antigos diziam ser praticamente impossível cruzar os mares sem a utilização deste tão precioso instrumento de navegação e orientação.
       Assim, para se fazer uma viagem segura e tranquila, é necessário, antes de mais nada, o oceano, com suas ondas, cores, golfinhos, ilhas, pássaros... em seguida, um barco, mantimentos, estrelas, um amor que te queira e, imprescindível: Astrolábios! Muitos astrolábios!!
       Falo não dos astrolábios que guiam as pessoas para vidas vazias, sem poesia, pessoas que olham o céu e direcionam suas vidas exatamente ao encontro dos buracos negros, das grandes massas, pessoas absortas pela densidade, pela materialidade e pesar de seus atos e pensamentos.
       Não! Não falo de uma viagem movida pelas ondas dos ressentimentos, das mentiras e da ganância.
       Falo dos astrolábios que nos guiam em uma viagem até o universo do amor:

       "Livros" que vêm de encontro à proa de nosso barco, batendo forte no casco, páginas e páginas de imensidão tocando e embebecendo de sonhos a nossa alma.
       "Músicas", as mais encantadas e rituais, com a força de envolver o corpo sob o signo da dança, correntes marinhas movendo o mundo, movimentando a pele, a vibração do afeto e do prazer compondo a grande sinfonia.
       "Amigos", os mais revolucionários amigos, com a coragem de dizer as coisas que não queremos escutar, os mesmos que entoam as canções e recriam o mundo soprando suas ondas sonoras, ondas de vento e de amor que tocam e assopram as velas e o mastro firme que é a Cordilheira Andina.

       E assim, astrolábios da América Latina, com a bandeira da espiritualidade humana hasteada, navegamos profundo o oceano de nossas vidas.
 
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sábado, 15 de maio de 2010

VERDADES TRANSITÓRIAS



      Temos que ter a consciência de que acreditamos em verdades transitórias.
      Elas entram em nossas vidas como quem pegou um trem e estão apenas de passagem, viajando de uma geração a outra, até que um dia, serão totalmente ultrapassadas e esquecidas, como esses velhos trens e vagões esquecidos em museus e pátios ferroviários.
      Assim como estas velhas locomotivas deterioradas e jogadas no baú do esquecimento, todas as verdades do mundo, hoje, já sabemos que serão "obsoletas" amanhã.

      Então, para quê servem as pessoas quererem ter razão todo o tempo? Muitas vezes, levando nações às guerras, se não, dentro de nossas casas, levando aos tapas e crises as nossas relações?
      Vamos dar um destino mais inteligente e sensato para a nossa existência, e não esse destino irresponsável de se render às armas e às brigas para fazer valer as nossas ideias e crenças.
      Se eu disser que toda uma geração é apenas um surpreendente "nada" no tempo, para quê dar tanto poder às verdades?
      Porque armá-las com facas, revólveres, bombas, porta-aviões, discursos, sermões e temores?
      Para promover o rancor e a raiva entre os povos? Para uma cultura dominante aniquilar a outra?
      Uma religião se impor sobre a outra?
      Que triste (e enfadonho) seria o mundo se houvesse uma só língua, uma só religião, um único padrão de ser e de pensar.

      Viva a diferença.
      Aprecie e ame o ser humano como ele é. Mesmo que ele não tenha razão, que ele não seja bonito, mesmo que ele tenha uma fortuna de péssimos modos, mesmo que este ser humano tenha violentas maneiras de se fazer respeitar.

      Ame e se deixe amar.
      O amor é irreversível.

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